2010-01-29

Primeiro a Renata, depois a Semiótica



Fonte: websites diversos
http://static.rafaelmarin.com.br/blog/uploads/2008/10/analise_sucrilhos.pdf
http://manuscritdepot.com/internet-litteraire/document-pdf.01/infopresse/recherche-marketing/charles-leech.pdf

Primeiramente queria dizer que não escrevi ontem porque passei com minha irmã, Renata, seu último dia no Brasil - ela mora em Londres e estava de férias por aqui. Assim, não tive cabeça para mais nada. Mas, agora ela se foi e ficamos aqui muito tristes e já cheios de saudades dela e do Tony (the one and only). Enfim, é a vida...

Agora, já com a cabeça no lugar, queria falar sobre Semiótica, que é um assunto interessantíssimo e que sempre despertou minha curiosidade.

Semiótica, em linhas (bem) gerais, é o estudo dos signos / símbolos e seus significados. Acho que todo mundo sabe do que tratam os signos abaixo, certo? No entanto, apesar de todos terem um significado comum (a marca), há interpretações que variam de acordo com quem estamos falando (se você é um fã do Barack Obama, a imagem abaixo significa presidente e esperança. No entanto, se você não viu grandes feitos no primeiro ano de gestão do estadista americano, poderá entender o significado da imagem como presidente e decepção).


Minha intenção não é detalhar aqui os fundamentos da Semiótica, mas queria dividir com vocês a parte divertida deste estudo - análise Semiótica de duas embalagens famosas: qual a intenção atrás dos signos, cores, fontes e logos? Vamos ver:

O produto possui duas temáticas distintas: uma original, com os elementos geralmente presentes nos Sucrilhos® Kellogg’s®, e outra do filme Kung Fu Panda™, da Dreamworks®. O conjunto básico de cores da embalagem é azul, vermelho e branco, que faz referência implícita às cores da bandeira americana. Na área relativa ao filme, as cores vermelha e amarela fazem menção às cores da bandeira da China, local onde o (ótimo) filme de animação se passa. A fonte utilizada no nome Sucrilhos é moderna e transmite uma estética de dinamismo, movimento e disposição, que são mensagens importantes para o público-alvo. Já na seção relativa ao filme, a temática da fonte adotada faz referência à tipografia e aos ideogramas chineses.

O tigre Tony®, mascote da empresa Kelloggs® e do Sucrilhos®, além de
servir como uma espécie de ícone para o produto é a representação da força e da energia, passando assim a mensagem de que o produto “deixa forte como um tigre".

A tipografia cursiva utilizada na logomarca da Kellogg’s® reforça a idéia da
tradição dos produtos da marca. Todo o dinamismo empregado na embalagem
nos dá a nítida idéia de que o produto é uma fonte de energia.

o nome “red bull” ("touro vermelho) sugere mensagens que são coerentes com o público alvo desta bebida que é masculino:
– o vermelho é responsável pela natureza brava e energética do touro
– touro excitado e violento
– agressão, conflito, touro e sangue
– um touro cego de raiva, que vê tudo vermelho

Todas estas características são conotações perfeitas para um energético.

O logo mostra dois touros envolvidos num combate "cabeça a cabeça", que combina com a personalidade competitiva da marca. Este comportamento dos animais é normalmente observado quando estão competindo por uma fêmea, mais uma vez em linha com a personalidade da marca. O fato de estes significados estarem traduzidos em um desenho torna o tom da mensagem menos chocante e mais socialmente aceitável.


O formato cilíndrico e alongado da lata carrega uma semelhança (longínqua, mas intencional) com cartuchos de armas de fogo.

Interessante, não? Os elementos de uma embalagem são exaustivamente analisados e nada é escolhido por acaso. Vou pesquisar outros exemplos de estudos de embalagens para dividir com vocês.
É isso.
E segunda-feira tem mais...

2010-01-27

Big Brother



Gente, não sei o que vocês pensam a respeito, mas eu adoro!! Sei que é meio constrangedor admitir, mas não vou mentir - gosto mesmo. Para mim, o Big Brother segue uma teoria que tenho sobre determinados programas de TV: é tão ruim, tão ruim, que acaba sendo bom. Nesta categoria incluem-se o cantor Falcão, alguns sertanejos (quem não se lembra do refrão grudento "pensa em mim, chore por mim, liga pra mim...?), o programa Pânico na TV, novelas em geral, e outros. Coisas que não são para ser levadas a sério, mas que funcionam como "escapismo" - aquele tipo de programa que até o seu cachorro consegue entender e que não exige nenhuma concentração. Porque, francamente, depois de um dia cheio, eu preciso de algumas horas na frente da TV, sem pensar em nada (assistir à novela e ao BBB cumprem bem o papel de "não ter que pensar").

Agora que já listei minhas desculpas para assistir a este reality show, vamos ao tema deste post: por que será que gostamos (a maioria de nós pelo menos) do Big Brother? Sim, porque claro que gostamos, afinal esta é a 10ª edição do programa e os índices de audiência, se não são os mesmos do primeiro ano, ainda são atraentes o suficiente para a Rede Globo insistir no formato e suas concorrentes lançarem suas próprias versões: a Record com o pouquíssimo inspirado "A Fazenda", o SBT com sua "Casa dos Artistas" e o atual (medonho) "Solitários" (aposto que muitos de vocês nem ouviram falar deste último). Isso, sem falar nos canais pagos que exibem todo o tipo de reality show temático: Project Runway, Brazil's Next Top Model, Super Chef, A Escola de Jamie Oliver, Stylista, The Apprentice e mais uma série de competições. Do ponto de vista das emissoras, é fácil entender a insistência: os programas são baratos, a audiência, OK, e há o benefício extra de não precisar lidar com estrelas dando chiliques. Mas e nós, o que será que nos atrai?

Eu acho que é aquele mesmo tipo de curiosidade mórbida que acomete os motoristas quando há um acidente na estrada e todo mundo passa devagarzinho para ver o que aconteceu. Da mesma maneira, nós gostamos de bisbilhotar a vida dos outros - em outras palavras, somos grandes fofoqueiros! No caso do BBB então, em que não há tragédias envolvidas, aí a gente assiste sem culpa (com vergonha de admitir, mas sem peso na consciência)!

Este fenômeno não é novo, afinal não é de hoje que as bancas de jornal estão apinhadas de revistas que tratam da vida de celebridades - mesmo quem não compra sempre se delicia com elas na sala de espera de médicos e dentistas ou no salão de beleza. Não há quem não as leia. E não nos esqueçamos do Orkut, Twitter, Facebook, You Tube...todos são espaços que utilizamos para mostrar quem somos ou para olhar a vida de outras pessoas.

E do que é composto um Big Brother? Basicamente de personagens (mais ou menos) bonitos, "frases ralas, ideias idem, peitos, bundas, bíceps, tórax". Gente com aquela falta de inibição que damos graças a Deus por não ter (mas ficamos igualmente felizes pelos participantes demonstrarem que tem). Freud reconhece o sexo e a violência como paixões humanas e os reality shows (especialmente o Big Brother, qualquer que seja a nacionalidade) são a prova de que ele estava certo). A gente é meio maluco e adora! Quando os participantes são pegos em uma mentira, a gente dá uma risadinha nervosa. Quando eles ficam constrangidos (fato raro), a gente gosta. Quando eles são eliminados, a gente sofre junto ou, pelo contrário, vibra!

Resumindo, o BBB permite que a gente seja, por 40 minutos por dia, um simples espectador da vida alheia - ficamos sentados, na posição confortável (literalmente) de quem a tudo assiste e julga, sem nos preocupar com as consequências e sem ter que fazer nada. E, se algum participante fizer alguma coisa que nos desagrade...a gente elimina!! Enfim, uma delícia!

E, para terminar, copio aqui um trecho da coluna do José Simão de terça-feira, 26/01, em que ele relata, segundo suas próprias palavras, uma das "antices" proferidas durante um diálogo entre os participantes do BBB nesses últimos dias:
- "eu acho engraçado este nome, PINACOTECA"
- "O que é PINACOTECA?"
- "PINACOTECA é uma coleção de livros"

É isso gente, divirtam-se sem culpa.
E amanhã tem mais.

2010-01-26

O Código Cultural - A Saúde

Fonte: O Código Cultural, de Cloitaire Rapaille




Já falamos sobre este livro e suas curiosas teorias. Para aqueles que não leram o post de14 de janeiro, copio aqui um trecho que explica o conceito de código cultural:

"O autor, Dr. Rapaille, é um antropólogo que defende a idéia de que todos nós adquirimos um sistema silencioso de códigos à medida que crescemos em determinada cultura. Estes códigos - o Código Cultural - são os que nos fazem ser americanos, brasileiros, alemães e formatam invisivelmente a maneira como nos comportamos em nossa vida, mesmo quando desconhecemos os motivos que nos levam a agir da maneira que agimos."

No post de hoje vou relatar a descoberta do código de saúde e bem estar para os americanos. A primeira coisa a se considerar é que os americanos são pessoas de ação, são gente que faz! Não é por nada que o slogan da Nike é Just do it! Os americanos respeitam, obviamente, seus pensadores, mas seus grandes heróis são atletas, empresários, bombeiros, soldados - mais uma vez, pessoas de ação!
Se, por um lado, alguns não se importam com seu sobrepeso (triste realidade americana), por outro, acreditam firmemente que necessitam de sua saúde para "fazer coisas".


A fim de entender melhor qual era a definição dos americanos para o tema, o dr. Clotaire organizou vários encontros com consumidores e pediu que explicassem o que eles entendiam por saúde e bem estar. As histórias relatadas pelos consumidores envolviam episódios em que se viram impossibilitados de ir ao supermercado, incapazes de andar, obrigados a ficar na cama. Ao analisar os relatos era possível observar que um tema poderoso emergia deles: saúde para eles não era apenas não estar doente. Saúde, para eles, não significava estar bem para poder viajar ou aproveitar um dia de sol. Também, estar doente não se relacionava com dores, resfriados, tosse. O que os participantes relatavam era que estar doente significava perder a independência, ficar preso em casa, repousar. Seu maior temor quanto a estar doente é a incapacidade de fazer coisas.

Para os americanos, saúde e bem estar significam ser capaz de completar sua missão (qualquer que seja ela). Eles acreditam que, se forem suficientemente fortes para agir, serão saudáveis. Assim, o código para saúde e bem estar na América é MOVIMENTO.

Pense bem: mesmo aqueles que têm um emprego estressante e uma vida familiar que exige um conjunto de obrigações, ainda assim envolvem-se com outras atividades e seu tempo livre: golf, associações de bairro, grupos de leitura...

Não sei se é padrão, mas quando os paramédicos vão socorrer alguma vítima de acidentes, a primeira pergunta que eles fazem ao acidentado é "você consegue se mexer?" Depois vem "como você se sente"? Não é interessante a ordem destas perguntas?

Em outras culturas, o conceito de saúde possui uma dimensão diferente. Para os chineses, ter saúde significa estar em equilíbrio, em harmonia com a natureza. Bem diferente, né?

Os japoneses percebem a boa saúde como obrigação. Se você é saudável está comprometido, contribuindo com sua família e sua comunidade. Os japoneses sofrem com um terrível sentimento de culpa quando ficam doentes, se sentem um peso.

É isso.
Qual será o código de saúde para nós, brasileiros? Serão filas, espera, mal atendimento, falta de médicos, greves? Adoraria saber...

E amanhã tem mais...

2010-01-25

Segunda-feira, dia de fazer o bem!


Vocês acreditam que o ser humano é essencialmente bom? Há quem deposite todas as suas fichas nesta crença e há quem aposte que o homem tem uma índole ruim. Estes últimos afirmam que o ser humano só se comporta de maneira aceitável por conta do verniz de civilidade que somos obrigados a usar e de vez em quando a lustrar (se não ele vai desbotando e nos transformamos em bestas feras).

Eu faço parte do primeiro grupo, aquele que acredita que o homem tem uma natureza generosa. Será que sou crente demais? Talvez, mas tudo me leva por este caminho, afinal, mesmo que a leitura dos jornais ateste o contrário, há, ao longo de nossa história, muitos exemplos de atos de bravura e coragem de pessoas que arriscaram suas vidas para salvar outras, sem, aparentemente nenhum ganho pessoal - só aquela sensação inestimável que nos invade quando ajudamos alguém.

Claro que as minhas poucas experiências nesta área ficam por conta de caridade (colaborar financeiramente) ou voluntariado (dou aulas particulares para crianças carentes)- nunca arrisquei meu pescoço como faziam alguns bravos durante a segunda guerra mundial, ao esconderem famílias judias em suas casas, nem nunca trabalhei em campos de refugiados na África, nunca entrei num prédio em chamas para resgatar alguém nem, muito menos, estive no Haiti antes, durante ou depois do terremoto. Nem pretendo.

Fiquei pensando na generosidade de pessoas como Zilda Arns, que fizeram da ajuda ao próximo a meta de suas vidas e resolvi dedicar os posts de segundas-feiras à divulgação de "ações do bem" - elas estão por aí, aparecendo a toda hora, em diversos lugares do mundo, fazendo um "cabo-de-guerra" com as tragédias que nos assolam. Minha torcida, claro, fica para que o lado "do bem" seja mais forte e traga a corda para o seu lado. Afinal, nada melhor do que começar a semana lendo sobre exemplos iluminados e inspiradores para variar um pouco. Se vocês conhecem iniciativas legais, que gostariam de ver publicadas aqui, por favor, é só me enviar um email (claudia.allamandi@beyondreason.com.br).

Hoje, quero dividir com vocês duas iniciativas:

1) Distribuição de óculos lança novo olhar para a luta contra a pobreza (New York Times, janeiro/2010): um estudo publicado em uma revista da Organização Mundial de Saúde estimou em US$ 269 bilhões/ano o custo em produtividade perdida por problemas de visão. Há quem estime que 2 bilhões de pessoas não tenham lentes corretivas que lhes permitam levar um vida melhor e mais produtiva. Agora, há esforços para distribuir óculos baratos em grande escala. Uma tecnologia promissora é a dos óculos ajustáveis, em que usuários destreinados acertam o foco sozinhos em menos de um minuto, sem a necessidade de um oftalmologista. Três entidades já estão oferecendo suas versões dos óculos ajustáveis de baixo custo (US$4) - duas delas ficam na Holanda e uma no Reino Unido. A meta destas entidades é distribuir 1 bilhão de pares até 2020, nos países em desenvolvimento. Se quiser conhecer melhor as entidades envolvidas com o desenvolvimento e a distribuição destes óculos incríveis (quem sabe até fazer uma doação), aí vão os sites:
- Focus on Vision: http://www.focus-on-vision.org/index_en.php
- U-specs: http://u-specs.org/?page=18054
- Centre for Vision in the Developing World: http://www.vdw.ox.ac.uk/2minuteintro.htm



2) Como os pequenos empréstimos estão capacitando as mulheres atingidas pela pobreza na África (Opportuntiy Internacional - www.opportunity.org.uk):A Opportunity é uma instituição inglesa que concede microcrédito e treinamento profissional a pessoas menos favorecidas em países em desenvolvimento. A meta deles? Transformar vidas! Nas próprias palavras da Opportunity: propiciar uma chance a 10 milhões de pessoas necessitadas ("the world’s poorest people") de sair da pobreza através de seus próprios trabalhos e talentos - tudo isso até 2015.

Aí vão alguns exemplos do que eles já fizeram:

Perguntada onde o seu negócio seria localizado, a resposta de Rosina Sarfo foi "debaixo de uma mangueira", porque é "perto do local onde os ônibus e táxis desembarcam seus passageiros quando eles retornam de Kumasi (Gana), por isso é bom para as vendas."

O instinto marketeiro de Rosina foi de uma precisão absoluta: um ano mais tarde, o fluxo constante de clientes para sua barraquinha de peixes fritos fez com que Rosina deixasse de fritar os peixes em uma panelinha, num fogo feito ali mesmo, e começasse a comprar peixes em grande quantidades e a prepará-los num fogão adequado. Assim,ela pode vender muito mais peixes.

Mas apesar de seu tino comercial e perseverança, a banca de peixes de Rosina nunca teria conseguido sair do chão sem um pequeno empréstimo de 55 dólares concedido pela Opportunity International. Hoje Rosina consegue sustentar sua família de seis pessoas.

Dê a uma mulher a chance de desenvolver seu potencial e os efeitos em cadeia para seus dependentes e a comunidade são de longo alcance. As mulheres tendem a destinar uma maior parte de sua renda para as necessidades básicas - melhor nutrição, habitação, saúde e educação - para si e para seus filhos.

Hoje, 85% dos clientes do Opportunity International são mulheres e muito do foco do seu trabalho consiste em encontrar novas formas e produtos para capacitar as mulheres e explorar o espírito empresarial como o de Rosina Sarfo.

O resultado é freqüentemente uma mudança positiva na forma como as mulheres percebem a si próprias (aumento da auto-estima) e como suas famílias e comunidades passam a vê-las.

Jennifer Mwesigye - Depois de anos de luta para sustentar seus sete filhos, trabalhando como costureira em Uganda, em 1997, Jennifer recebeu um pequeno empréstimo para comprar sua própria máquina de costura. Isso lhe permitiu expandir o seu negócio e a diversificar para outras áreas. Primeiro, ela abriu uma empresa de moto-táxi e depois comprou terrenos para construir imóveis para alugar. Hoje, as empresas combinadas de Jennifer empregam 57 pessoas, e, além de seus próprios filhos, ela agora cuida também de cinco órfãos portadores do HIV.

Enquanto isso, sua capacidade de liderança natural a levou a ser eleita para o conselho da cidade. Agora ela está mudando a cultura local para as mulheres, derrubando as barreiras para que elas possam iniciar seus próprios negócios.

"Quando você treina uma mulher, você treina uma nação inteira", comenta Memory Nsinga, que trabalhou para o Opportunity International Bank of Malawi durante seis anos.


À sombra da mangueira, Rosina não trabalha sozinha. Enquanto ela continua a fazer um grande sucesso com seu peixe frito, sua irmã trabalha no seu próprio empreendimento, ao lado do de Rosina, vendendo batata doce frita. A estratégia de marketing da dupla é bem "costurada": um prato de peixe frito com batata doce é uma refeição completa para os viajantes famintos.

Estas histórias são inspiradoras, vocês não acham? Sempre me comovo com essas iniciativas e nunca deixo de me surpreender ao ver que muito pouco pode causar um grande impacto na história de alguém (55 dólares para a Rosina transformar a vida dela e de sua família).


Ah, quase me esqueço - o índice de inadimplência destes empréstimos é de 2%! É maravilhoso, não? Por que será que os nossos bancos não se inspiram nestes exemplos? Juros razoáveis estimulam as pessoas a quitar seus débitos. Juros extorsivos, agiotagem (que é o que se pratica oficialmente hoje no Brasil) são um convite ao calote! A propósito, a inadimplência no Brasil gira em torno dos 6%!


É isso, gente.
Acostumem-se porque, como já disse, vou dedicar as segundas-feiras a este assunto: 2ª feira é dia de espalhar o bem!

E amanhã tem mais...


2010-01-22

Quando celebridades se envolvem em escândalos



Será que a presença de celebridades em campanhas publicitárias torna a mensagem mais persuasiva, mais crível?

Eu li em um estudo quantitativo seriíssimo, feito por uma das maiores agências de pesquisa de propaganda do mundo, que não, que a presença de celebridades em campanhas publicitárias não torna a propaganda mas eficiente. Por outro lado, é verdade também que quando reconhecemos uma celebridade anunciando um produto, paramos para ver do que se trata (impacto) e via de regra memorizamos a mensagem (recall). Assim, acho que a questão da conveniência ou não de se gastar mais numa campanha para pagar o cachê de uma pessoa famosa não é uma questão fechada.

Agora, o que acontece quando a celebridade em questão se mete em alguma confusão enquanto ainda é o "rosto" da marca? Vejamos alguns exemplos:

O mais recente deles envolve o gênio do golf Tiger Woods! Soube-se recentemente que o atleta, com postura tão séria, quase intocável, na realidade adorava (e como adorava!) uma aventura extra conjugal. No último capítulo desta novela Tiger Woods bateu seu carro em uma árvore - aparentemente no meio de uma briga com sua mulher. Woods é o atleta mais bem pago do mundo já há uma década e boa parte deste dinheiro vem das campanhas publicitárias que ele estrela. Nike, Gatorade e Gilette são seus maiores patrocinadores e, quando o escândalo estourou se posicionaram firmemente ao lado o golfista. O grande problema deste caso não é a questão moral, mas sim o grande "abismo" que separa a imagem pública de Tiger Woods que agora descobrimos(mulherengo e infiel, para dizer o mínimo) e sua "persona publicitária". Explico: Tiger Woods era garoto propaganda destas marcas que já mencionei mas fez campanha também para uma consultoria global, a Accenture. O traço que diferencia Tiger Woods de outros atletas é que ele não se mostrava até então como uma pessoa descontraída e relaxada, ao contrário ele parecia quase um homem de negócios - focadíssimo, disciplinado, resistente a todo tipo de pressão. Tiger Woods passava a impressão de ser superior a nós mortais, sem fraquezas. E tudo isso veio abaixo com o escândalo. A Accenture suspendeu seu patrocínio alegando que ele "já não é o representante adequado para a imagem do produto".

A imagem de Tiger Woods como homem sério e nada chegado a distrações que o desviassem de seus objetivos era tão poderosa que a Gatorade lançou uma bebida com o rosto dele no rótulo e com o nome de Tiger Focus. Depois dos últimos acontecimentos, a Gatorade também abandonou o jogador e tirou sua bebida do mercado. A Gilette foi a súltima a deixar de patrocinar Woods.

Outra que deu o que falar foi Kate Moss. Em 2007 a linda, linda, linda modelo inglesa foi flagrada cheirando cocaína (veja foto na capa da revista). O efeito imediato foi o cancelamento de uma série de participações da estrela em campanhas e desfiles. Muitos chegaram a decretar o fim da carreira da top. Kate Moss teve suspensos seus contratos com a Chanel, a Burberry e a H&M. Um ano depois, no entanto, Kate Moss firmou novos contratos com a Virgin Mobile, Rimmel, Longchamp, Calvin Klein, Versace, e Roberto Cavalli. Mas ela é uma exceção - a top model saiu intacta deste escândalo! Na verdade, segundo alguns jornais, sua fortuna dobrou desde então.

Lembro aqui de outros casos: Magic Johnson quando divulgou ser portador do vírus HIV, Michael Phelps fumando maconha, Kobe Bryant acusado de estupro, Ellen Degeneres saindo do armário, Michael Jackson, Rihanna e muito mais.


Nos últimos anos observa-se uma pequena redução no uso de celebridades em campanhas publicitárias, sendo duas as principais razões: o alto investimento necessário para se contratar uma figura pública e o inevitável risco de se associar à imagem de uma outra pessoa. Zelar pela imagem de uma marca já é um trabalho imenso quando você tem o controle da situação, imagine ter que se preocupar também com o comportamento imprevisível de celebridades milionárias.


É isso.
E segunda-feira tem mais...

2010-01-21

As saias justas das grandes corporações




Hoje vou relatar alguns casos bem delicados envolvendo grandes empresas e consumidores ofendidos.

Em julho de 2008, na cidade de Dearborn, Michigan, USA, duas mulheres muçulmanas deram entrada num processo judicial contra a maior cadeia de fast-food do mundo, o McDonalds, alegando que sofreram discriminação durante uma entrevista de emprego porque estariam usando o hijab (véu típico que cobre os cabelos e só deixa o rosto de fora). A alegação das duas mulheres é que o gerente que conduzia a entrevista teria dito a elas que só seriam consideradas para a vaga de emprego se tirassem o hijab.

A cidade de Dearborn é uma cidade onde a colônia muçulmana é uma das maiores dos Estados Unidos (na realidade, é a maior concentração de árabes fora do Oriente Médio e, em algumas escolas, 90% dos alunos são muçulmanos), e os restaurantes de lá oferecem comida "halal", isto é, alimentos preparados de acordo com os preceitos da religião muçulmana - o Mc Donalds é um deles.

O caso gerou grande comoção na comunidade e protestos como "eles aceitam dinheiro dos muçulmanos mas não aceitam que uma muçulmana trabalhe lá". O Mc Donalds afirma que é "um restaurante global" e que a diversidade é constantemente estimulada também entre seus funcionários. Difícil, né?

Outro caso envolvendo questões étnicas, aconteceu na China e teve como protagonistas a marca Dior e a estrela de cinema Sharon Stone. O caso ocorreu em 2008 e terminou com a marca tirando a atriz (o rosto da marca) de suas campanhas publicitárias na China. O motivo? A atriz disse "..e estes terremotos e todas estas coisas ruins acontecendo na China me fazem pensar - será karma? Será que quando você faz coisas ruins para os outros, coisas ruins acontecem para você também?" Sharon Stone se referia aos terremotos que mataram 68.000 pessoas na China e deixaram milhares de famílias sem casa como sendo um castigo pela maneira como o governo chinês trata o Tibet. Os chineses consideraram esta afirmação infeliz e "insensível" já que milhares de vidas tinham sido perdidas. A Dior imediatamente retirou Sharon Stone de sua publicidade na China. Afinal, quem tem peito para comprar briga com um mercado daquele tamanho?

Em 2006 foi a vez da Coca-Cola passar por estes dissabores. Dez das maiores universidades americanas baniram a venda de qualquer produto desta marca em seus campi. Uma delas era a Universidade de Michigan, responsável por vendas ao redor de 1.4 milhão de dólares ao ano. Este banimento foi o resultado de uma campanha agressiva por parte dos alunos e de militantes dos direitos humanos. Qual foi o pecado da Coca-Cola? Na realidade, foram dois: práticas de trabalho condenáveis na Colômbia (falta de segurança principalmente) e falta de cuidado com o meio-ambiente na Índia (poluição do lençol freático). O caso na Colômbia era particularmente sério: a empresa estava sendo acusada de contratar grupos paramilitares para coagir os sindicalistas e trabalhadores envolvidos no plantio de coca e no envasamento do produto que exigiam maiores salários e melhores condições de trabalho. De fato, o número de sindicalistas mortos na Colômbia era muito acima da média. A companhia negou tudo, claro.

Todos estes exemplos falam de crises e numa hora dessas as empresas contratam um tipo de profissional que eu não me canso de admirar: o gerenciador de crises. Vou voltar a falar dele em um post futuro.
É isso, gente.
E amanhã tem mais...

2010-01-20

Você faz maravilhas com Leite Moça!



Hoje vou falar sobre esta delícia! Um sucesso presente em grande parte dos lares brasileiros. Prestem atenção nesta história e vocês verão como dois fatores foram fundamentais para seu êxito:

1) o produto foi e ainda é muito bom
2) a Nestlé observou e aprendeu os hábitos de seus consumidores, transformando o produto naquilo que a gente queria


O leite condensado Moça começou ser fabricado no Brasil em 1921 e, na ocasião, nada mais era do que um leite que não necessitava de geladeira para ser conservado - os refrigeradores elétricos só desembarcaram por aqui em 1928! Assim, o Leite Moça, na época chamado de MilkMaid, era uma maneira prática de estocar leite (bastava depois diluí-lo em água e tomar - já vinha, claro, adoçado (íssimo!). Como o nome era difícil de ser pronunciado por nós brasileiros, e considerando a moça da embalagem, o produto ficou conhecido pela população como o Leite da Moça. Aí já está o resultado da observação da Nestlé, que logo mudou o nome do produto de Milkmaid para o mais adequado, Leite Moça.

Como todos sabem, nós brasileiros, amamos uma sobremesa, um docinho, um confeito beeemm açucarado. Assim, a Nestle não deve ter ficado surpresa ao constatar que as consumidoras estavam criando muitas receitas a partir do leite condensado, desvirtuando seu uso original. Foi uma questão de tempo até que a própria fabricante "abraçasse" esta nova idéia de produto e o Leite Moça deixasse de ser considerado como "leite para diluir" e passasse a integrar a categoria dos ingredientes culinários. Mais uma vez, a transformação partiu das consumidoras e foi assimilada pelo fabricante (eu adoro esta história)!

De 1940 a 1970, inspirada em suas consumidoras, a Nestlé passa então a comunicar, criar e ensinar novas receitas com Leite Moça.


A Nestlé, sempre atenta às mudanças na sociedade, percebe que as mulheres não são mais as mesmas, que têm menos tempo, que trabalham mais e que estão encontrando satisfação em atividades fora de casa. Notam outra mudança no comportamento das mulheres: elas não precisam mais cozinhar a sobremesa preferida do filho para demonstrar seu amor por ele. Pensando nos novos tempos, lança então versões mais práticas de produtos e sobremesas consagradas pelo consumidor: o pudim de leite pronto, que só precisa ir à geladeira, as latinhas de Moça Fiesta, em que os docinhos só precisam ser enrolados e transformados em bolinhas, e, resultado de mais uma observação de um hábito dos consumidores: doce de leite feito à partir da fervura da lata do leite Moça - lançam as latinhas com o docejá pronto. Tudo isso significava praticidade e rapidez.

Por fim, a Nestle lança outras inovações com seu leite condensado, mas todas são resultado de observação das práticas de suas consumidoras: o (terrível) hábito de tomar o leite condensado direto da latinha deixa de ser tão feio quando a gente vê a criança com o sachê na boca - muito menor e mais fácil de controlar da quantidade do doce. Também lançaram a "bisnaga" de Leite Moça, assim dá para colocar o doce na salada de frutas de uma maneira mais elegante e não nos deparamos mais com uma lata aberta na geladeira, contendo o que sobrou do produto.

É isso, gente! A Nestlé é uma grande marca, seu Leite Moça é incrível, e seu pessoal de marketing sempre soube que o segredo estava sempre, sempre, com os consumidores. Eles viram, aprenderam e lucraram.

E amanhã tem mais...

2010-01-19

Leis Sociais x Leis de Mercado



Fonte: Predictably Irrational, de Dan Ariely

Hoje quero falar sobre estes dois conceitos (leis sociais x leis de mercado) e relatar algumas experiências para entendê-los melhor. Nós vivemos, simultaneamente, em dois mundos diferentes - um, onde prevalecem as leis sociais e outro onde as leis de mercado falam mais alto.

Leis sociais: incluem pedidos amistosos que fazemos uns aos outros - "você me ajuda a trocar o pneu?" / "você me ajuda a mudar um sofá de lugar?". Estas leis falam muito a respeito de nossa natureza gregária e de nossa necessidade de viver em comunidade. Elas são normalmente calorosas, imprecisas e não requerem pagamento imediato. Explico: se alguém te pedir para trocar um pneu, você não espera que esta pessoa lhe devolva o favor de imediato. É como abrir uma porta para alguém: ela proporciona uma sensação boa para ambas as partes, mas a reciprocidade não é imediatamente exigida. Isso são as leis sociais.

Leis de mercado: é um mundo completamente diferente do anterior! Não há nada de amistoso ou impreciso aqui. As trocas são claramente definidas: salários, preços, aluguéis, juros, custo-benefício. Estas relações incluem confiança, pagamentos imediatos e benefícios comparáveis. Quando você está sob o domínio destas regras, você recebe aquilo que paga.

Quando conseguimos manter ambas as leis em mundos diferentes, tudo corre bem. Agora, quando os mundos colidem, aí começam os problemas.

Querem um exemplo? Vamos examinar as relações em que o sexo está envolvido. Há o sexo gratuito, no contexto social - ai ele é caloroso e emocionalmente aconchegante. Mas há também o sexo no contexto de mercado - pago, uma troca financeira, um acordo onde as condições são estabelecidas previamente. Afinal, não há maridos que paguem por um carinho de suas mulheres, assim como não há (ou não deveria haver) garotas de programa exigindo amor eterno.





Agora, como fica este exemplo quando os mundos colidem? Uma confusão: imaginem um rapaz convidando uma moça para sair e pagando a conta do restaurante. Após o terceiro encontro ele se acha no direito de levar a moça para seu apartamento porque tem pagado todos os programas dos dois e, pior, diz isso a ela! Já imaginou? O tal rapaz confundiu tudo: tratou com normas de mercado uma situação que exigia normas sociais.

Agora, vamos falar das experiências de comportamento conduzidas a fim de explorar os efeitos das leis sociais e de mercado:

Em uma sala havia um computador e no lado esquerdo da tela, um círculo aparecia desenhado. Do lado direito, uma caixa. Os participantes deveriam arrastar o círculo, com o mouse, até dentro da caixa. Aí o círculo sumia e outro reaparecia novamente do lado esquerdo para ser arrastado também. Este era o esforço exigido de cada participante e o resultado seria medido em números de círculos levados até a caixa.

Os participantes foram divididos em 3 grupos: em um deles cada pessoa receberia cinco dólares para tomar parte no experimento, independentemente do número de círculo que arrastasse. No segundo grupo, o pagamento seria bem menor: 50 centavos pela participação. Já no terceiro grupo, ninguém receberia nada. As pessoas foram convidadas a colaborar com os pesquisadores a título de lhes fazer um favor. Nenhuma palavra sobre dinheiro ou qualquer compensação material. A idéia era que este grupo aplicasse as leis sociais na situação e se comportassem de acordo com as mesmas.
Como será que o dinheiro afetou a dedicação de cada grupo?

Os participantes que receberam 5 dólares conseguiram colocar uma média de 159 círculos na caixa. Já o grupo dos 50 centavos arrastou 101 círculos, em média. Como esperado, o grupo que recebeu mais dinheiro se sentiu mais motivado e trabalhou melhor (quase 50% mais círculos). Finalmente, o grupo que não recebeu nada, aquele que encarou a experiência como um favor aos pesquisadores, apresentou uma média de 168 círculos, um pouco acima dos que receberam 5 dólares e muito acima da média do grupo de 50 centavos. Isso mostra que, muitas vezes, as pessoas trabalham com mais dedicação a uma causa do que por dinheiro.
Exemplos é o que não faltam: há alguns anos a AARP (American Association of Retired Persons ou Associação Americana de Aposentados) entrou em contato com alguns advogados a fim de conseguir que eles prestassem seus serviços a aposentados carentes com uma redução no valor de seus honorários - algo como 30 dólares por hora. Os advogados recusaram. Após algum tempo a AARP voltou a entrar em contato com os advogados, mas desta vez perguntaram se eles poderiam oferecer serviços gratuitos aos aposentados carentes. Surpreendentemente, eles concordaram. O que aconteceu? Será que receber 30 dólares por hora não era melhor do que não receber dinheiro algum? Claro que sim, ocorre que, na segunda abordagem, a AARP não mencionou valores, assim, os advogados utilizaram as leis sociais e gostaram da idéia de trabalho voluntário. Já na primeira tentativa, houve menção a valores e as leis de mercado entraram em ação - os advogados racionalizaram, pensaram em remuneração, em quanto valia seu trabalho e acharam a proposta muito baixa. Interessante, não? Pense nisso, quando quiser pedir alguma coisa a alguém.

E amanhã tem mais...