2010-02-17

Prá tudo existe limite...ou será que não?



Antes de desenvolver a idéia deste post, sinto que preciso deixar claro alguns aspectos de minha personalidade:

Já disse aqui que sou uma pessoa consumista: gosto de consumir, compro (muitas) coisas de que não preciso, tenho roupas no armário que ainda estão com a etiqueta porque me arrependi de comprá-las e quando gosto de uma peça compro logo três, uma de cada cor.

Adoro novos negócios - sabe aquela história de criar a necessidade nos consumidores? Pois é, sou adepta da idéia: livrarias online de livros usados (compro e são fantásticos); assim que lançaram o cômodo serviço de gravação de programas Sky Mais, comprei; sou fã das verduras já lavadas (odeio ter que lavar um maço de agrião!), adotei os smart phones tão logo chegaram no Brasil, enfim sou "novidadeira".

Acho também que sou uma pessoa razoavelmente moderna, poucas coisas me chocam. Tenho um senso prático que me protege do espanto!

No entanto, me deparei com uma notícia que me causou perplexidade, que me deixou pensando que os seres humanos estão realmente enlouquecendo! Daí o título deste post: será mesmo que existe limite prá tudo?

Li na Folha de São Paulo da 3ª feira de Carnaval a coluna do João Pereira Coutinho, cujo título era "Matadouros". O texto trata de uma empresa suíça que vende o "suicídio assistido" - a Dignitas! Sim, é isso mesmo! O portador de uma doença terminal entra em contato com a Dignitas que providencia todos os acertos para que o cliente "faça a passagem".

O criador deste serviço (para mim, uma aberração!) atende pelo nome de Ludwig Minelli e candidamente confessa que seu sonho é poder aplicar o "tratamento" a qualquer pessoa que o deseje - esteja doente ou não!!! Para Minelli, "o suicídio é o último direito humano".

Que fique claro: eu também sou a favor de que os médicos e hospitais abreviem o sofrimento de doentes terminais, se esta for a vontade do enfermo. Acho que ninguém está nessa vida para sofrer e sentir dor. Agora, no caso relatado pelo jornalista, esta "vontade do enfermo" fez surgir um novo filão no mercado: empresas que lucram tratando pessoas desesperadas como se fossem animais prontos para o abate. É a natureza "industrial" da matança o que me choca!

A Dignitas já "auxiliou" 1000 clientes a, como disse o jornalista, "entrar na empresa pelos próprios pés e a saírem entre quatro tábuas". E tem mais: há outras 6000 pessoas na lista de espera. Pessoas do mundo todo vão para Zurique num fluxo que já foi batizado de "turismo suicida" - horrível, né?

Querem saber como funciona? Pois bem, aí vai: o cliente chega e é instalado num quarto da empresa. No dia e na hora combinados é levado a uma divisão apropriada onde recebe uma mistura química que vai neutralizando seus sinais vitais. Finalmente, o corpo é removido.

O que mais me assusta nesta história toda é que não parece haver uma discussão ética em torno da questão - será que ninguém se espanta? Ninguém se sente menos humano? E a naturalidade com que o assunto é tratado? Sinceramente, só de escrever este texto já me sinto prá baixo...

Ah,cabe esclarecer que a Dignitas não é a única empresa do setor. Já existem 4 grandes empresas atuando neste singelo segmento, todas na Suíça.

É isso gente.
E amanhã tem mais...

2 comentários:

  1. Ai, mas isso da’ tanto pano pra manga aqui na Inglaterra! Apelidada candidamente de “suicide tourism”, a viagem ate’ a Dignitas e’ relativamente popular aqui – entre os endinheirados, pq o servico parece custar uma fortuna.
    So’ que a justica britanica nao sabe o que fazer. Eutanasia aqui e’ ilegal. E o acompanhante do paciente ate’ a Suica? Cometeu um crime qdo adimitiu assisti-lo? E o caso do medico ingles que viajou ate’ essa clinica para auxiliar seu paciente?
    O governo suico considera fechar a Dignitas, para evitar maiores constrangimentos com os varios – e menos liberais - paises europeus onde a viagem se torna sempre mais popular.
    Ou seja: negocio complicado. Sera’ que o consumidor esta’ preparado? Eu nao estou!

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  2. oi, Cludia,
    li também este texto e horrorizou-me. A humanidade, se é que pode ser chamada assim, parece que perdeu os limites.
    Tão cruel qto a eutanásia é a distanásia usada em nossos hospitais e, pelo que parece, ninguém se deu conta. Talvez o amor pelo ente querido, o medo de enfrentar a perda, o pavor pelo desconhecido(a morte), inconscientemente, alimente esta distorção que trás muito lucro aos prestadores de seviços médicos, e sofrimento aos doentes e família. Para mim,(e sou aberta a novas idéias) morte é a sequencia natural da vida e como tal deve ser encarada; partir daí, salvo melhore explicações, é uma aberração.
    Ótima reflexão para começo da QUARESMA
    bjs

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