2010-04-13

O nosso próprio Big Brother


Hoje queria falar sobre o quanto somos vigiados o dia todo, por diversas câmeras, em qualquer lugar. As mais comuns são aquelas instaladas por motivo de segurança em elevadores, nas ruas, nos bancos. Mas não são estas o alvo do meu interesse hoje...

Vamos falar sobre as câmeras instaladas nas lojas que frequentamos. Embora elas estejam lá também para inibir os furtos, há um motivo bem mais nobre (?) para sua existência em alguns estabelecimentos: profissionais de marketing querem analisar e entender nossos hábitos de consumo e nosso comportamento diante dos produtos expostos.

Existe inclusive uma técnica de pesquisa de marketing que consiste em instalar pequenas câmeras nas gôndolas dos supermercados que registram para onde os olhos dos consumidores se dirigem com mais frequência: para que produtos eles olham assim que chegam naquela prateleira? O que chama mais atenção?

Mas não é só isso. As tais câmeras flagram de tudo: o pai que perde a paciência com o filho que faz manha pode sinalizar a necessidade de algo para entreter os pequenos e não abreviar as compras da mamãe (às vezes uma distribuição de balões é suficiente). Uma senhora que luta para alcançar um produto numa prateleira alta indica que a loja não está adaptada à realidade de seus clientes (em época de globalização é preciso compreender as particularidades de cada povo).

A observação de consumidores é uma arma poderosíssima que pode trazer insights definitivos sobre como as pessoas decidem e o que elas procuram. Exemplo: uma empresa americana não conseguia entender suas vendas baixas no Japão. Depois de examinar a maneira como os japoneses se comportavam no supermercado eles perceberam que estes consumidores procuravam o nome do fabricante na embalagem: para eles não bastava o nome da marca (ex: Nescau) - eles queriam uma garantia maior, queriam saber quem estava por trás do produto (Nestlé).

Outra descoberta feita a partir do acompanhamento de consumidores diz respeito às mulheres: elas se incomodam muito mais do que os homens quando têm que fazer compras em um lugar apertado, com muita gente se encostando (passeando pela 25 de março seria impossível chegar à esta conclusão). Assim, muitos empresários modificaram a área com maior circulação feminina em suas lojas.

A observação também fornece dados como o tempo que os consumidores gastam comparando preços ou lendo as informações nutricionais dos rótulos (quando vou comprar pão de forma light, gasto um bom tempo comparando as calorias de cada fatia das diversas marcas).

O Pão de Açúcar adota um outro modo de rastrear os hábitos de compra de seus consumidores: é o tal Cartão Cliente Mais. Com ele você ganha descontos em alguns (poucos) produtos e em troca fornece ao varejista sua lista de compras. O cartão Cliente Mais fornece uma série de informações preciosas para a empresa, além de possibilitar que time de marketing entenda, por exemplo, como os hábitos de consumo variam em cada bairro.

Claro que há muita gente que não concorda com tais métodos, que se sente vigiada, com sua privacidade invadida - no entanto, é importante notar que as empresas não estão atrás de espionar  o individuo. Elas estão em busca de um padrão de comportamento de um grupo de indivíduos: consumidores mais velhos, mais jovens, mulheres, moradores de uma certa região, etc.  Eu, sinceramente, não me incomodo. Enquanto as tais câmeras não estiverem dentro dos provadores de roupa, tudo bem (a última coisa que eu quero é alguém assistindo à minha luta com um jeans apertado).

É isso, gente.
E amanhã tem mais...


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