2010-04-09

Provérbio Inglês: Não cave sua sepultura com seus próprios garfo e faca!


Primeiramente queria dizer que o provérbio do título fica bem melhor em inglês: "Don't dig your grave with your own knife and fork". Ainda assim dá para entender, né?

O assunto de hoje é a epidemia de obesidade no mundo. A gente (eu inclusive, claro) come demais, demais! Claro que é uma delícia, principalmente para quem, como eu, gosta também de cozinhar. Ai é a perdição, porque estou sempre atrás de uma boa receita.

Estamos (quase) todos acima do peso também no Brasil - dados do IBGE (que o governo não queria mostrar) indicam que o problema da obesidade hoje é mais sério do que o da fome. Isso não quer dizer que a desnutrição deixou de ser uma realidade, já que excesso de peso não significa excesso de vitaminas - aliás, muito pelo contrário. Um dos motivos para estarmos rechonchudos é justamente o fato de que alimentos processados (os que mais engordam) são bem mais baratos do que alimentos saudáveis, mas são péssimos nutricionalmente - sem fibras, apenas gorduras, açúcares, carboidratos de péssima qualidade. As despensas domésticas hoje estão abarrotadas de produtos açucarados, cheios de farinha, conservantes, gorduras e tudo o mais que leva à degradação física.

No caso do Estados Unidos, onde a epidemia já atingiu números assustadores e até a primeira-dama Michelle Obama está liderando uma campanha - Let's Move -  para que as pessoas vivam de maneira mais saudável, o povo e o governo sempre se orgulharam do "sistema que garante comida barata" no país. É verdade: a comida lá é bem mais barata do que aqui (mesmo em bons restaurantes). O lema dos produtores é "faster, fatter, bigger, cheaper"!

Vi um documentário que mostrava o freezer de uma americana de classe média. A visão chegava a ser engraçada (mas trágica): pilhas e pilhas de caixas de pizzas congeladas! Havia naquele congelador mais de 20 caixas! Quando perguntada sobre o por que daquele exagero, ela  se justificou dizendo que cada caixa custava apenas 50 centavos!! Dá para acreditar? Pizza congelada a 50 centavos cada...e não estou falando daquelas pizzas pequenas que encontramos nos supermercados daqui - as pizzas desta mulher eram pizzas tamanho americano! Assim, a gente começa a entender a origem do problema. Comida barata, mas comida sem nenhuma qualidade nutricional.

Outra consumidora de menor poder aquisitivo admitia: "a gente até procura a seção de verduras no supermercado, mas quando percebe que pelo mesmo preço dá para comprar dois hambúrgueres..."

O lobby da indústria alimentícia nunca foi tão poderoso, mas já começa a ser visto como tão pernicioso quanto o lobby da indústria do tabaco. Já há gente inclusive que defende que sejam tratados da mesma maneira.

Assisti ao programa da Oprah em que ela defende que as pessoas (lá) se esqueceram de onde vem a comida - eles encontram tudo pronto, já preparado, muito mais fácil de fazer, mais barato para o bolso mas com um custo enorme para a saúde. O exemplo que ela citava era o purê de batatas. Segundo a apresentadora ninguém mais compra batatas nos Estados Unidos para fazer esta delícia - os consumidores se contentam com aquela caixinha que vem com uns flocos de batata (uma coisa horrível e desidratada que temos aqui também) e que só necessita que você misture leite e manteiga para que a mistura se transforme num purê (pelo menos num arremedo de purê). Agora, considerando que purê de batatas já engorda, o que dizer deste preparado, com quantidades altíssimas de sódio? Ainda por cima é necessário acrescentar bastante manteiga na tal gororoba para que aquilo tenha um gosto bom.

Por outro lado, é muito fácil, não é necessário descascar batatas, cozinhar as batatas, amassar as batatas e acrescentar os ingredientes de um delicioso purê de batatas!! E como se tudo isso já não fosse apelo suficiente, vamos ao preço - uma caixa com 230gr do tal purê desidratado (depois de adicionados água e leite ele rende bem mais) custa em média R$ 1,20 - preço encontrado nos Estados Unidos e na Inglaterra. Imagine!! É muito barato, né? Fazer um purê de verdade dá muito mais trabalho, leva muito mais tempo, custa muito mais caro, mas, lógico é muito mais saudável e é delicioso!

Outra bizarrice: um litro de refrigerante é mais barato que um litro de leite! As famílias menos favorecidas vivem no eterno dilema entre comprar algo saudável para seus filhos ou algo barato. Na minha opinião existe uma lógica errada nesta conta!

Para quem se interessa pelo tema, algumas sugestões:

1) O documentário Food, Inc - documentário super importante que trata da indústria de alimentos nos Estados Unidos.  O filme fala sobre a dieta americana que é baseada em alimentos à base de milho ou xarope de milho (a produção deste vegetal por lá é absurda, por isso eles acrescentam milho em tudo!) e o impacto deste consumo na saúde de seu povo. Também aborda a maneira como os fazendeiros são tratados (e intimidados) pelas grandes corporações processadoras de alimentos e o papel delas em garantir o menor preço final possível para o consumidor, mesmo que seja através de práticas lamentáveis como a criação de animais em condições muito cruéis.Deixo aqui o trailler para vocês assistirem.

2) O Laboratório Gastronômico de Jimmy: o fazendeiro inglês Jimmy Doherty (amigo de infância do chef Jamie Oliver) desvenda a ciência por trás da produção em massa dos alimentos. E na sua fazenda aplica tudo o que aprendeu para criar um prato que, na opinião dele, é bom o suficiente para ser vendido no mercado. (estreou ontem às 22h30, mas há sempre os horários alternativos que nos dão uma segunda chance: sábado, às 19h30 e domingo 12h30).

É isso gente. Comer é uma delícia, mas comer demias é um perigo na mesma medida (principalmente quando a comida é ruim).

E segunda-feira tem mais...


Um comentário:

  1. Puxa Claudia, adorei teu blog. Sugiro a você a aos colegas a leitura de "Em defesa da comida", de Michael Pollan.

    Ele cria 9 regras sensacionais pra escolhermos a comida. E metralha de críticas a indústria de alimentos.

    forte abraço
    marcelo aguiar

    ResponderExcluir