2010-01-14

O Código Cultural


Fonte: O Código Cultural, de Clotaire Rapaille

O título deste post refere-se ao nome de um livro que li há uns dois anos e que achei fascinante. O autor, Dr. Rapaille, é um antropólogo que defende a idéia de que todo nós adquirimos um sistema silencioso de códigos à medida que crescemos em determinada cultura. Estes códigos - o Código Cultural - são os que nos fazem ser americanos, brasileiros, alemães e formatam invisivelmente a maneira como nos comportamos em nossa vida, mesmo quando desconhecemos os motivos que nos levam a agir da maneira que agimos. Vou dividir com vocês o que o autor fala no capítulo "Os códigos para comida e bebidas". É bastante curioso. Vale lembrar que o Dr.Rapaille é francês e que neste capítulo ele faz uma comparação entre a maneira como os franceses se relacionam com a comida e o modo de os americanos tratarem o assunto.

Uma das coisas que o autor aponta como curiosa nos Estados Unidos são os restaurantes "all you can eat" - aquele tipo de lugar em que você paga um valor fixo e come o quanto quiser. É um conceito bastante popular aqui no Brasil também, né? Pois bem, a partir desta constatação, uma série de comparações são feitas e todas têm como explicação o Código Cultural de cada país.

Se você já esteve nos Estados Unidos deve lembrar que mesmo em restaurante normais - aqueles com cardápio e preços cobrados de acordo com o que se consome - a porções são
extremamente generosas (para nós brasileiros um prato sempre é suficiente para duas pessoas). Sendo assim, por que ainda se faz necessário um restaurante "all you can eat"? De onde vem tanto furor pela comilança? Já no outro continente, as porções francesas são sempre pequenas (às vezes, pequenas demais!). Ainda, segundo o autor (e não há como a gente dizer que ele está errado), sair para jantar é uma experiência inteiramente diferente dependendo se você está na América ou na França (não estou aqui fazendo nenhum juízo de valor da culinária de qualquer um dos países ou da maneira como cada um se relaciona om o assunto).

Enquanto os franceses inventaram a noção de "slow food", ou seja, fazer a refeição calmamente, sem pressa, saboreando pratos, vinhos e o ambiente, os americanos são adeptos do "fast food". Mesmo em restuarantes mais elegantes, a comida, ns Estados Unidos, é servida rapidamente e as pessoas esperam que seja assim.

Num restaurante tipo buffet, um americano enche seu prato com uma quantidade imensa de alimentos e não se importa se está misturando saladas, carne e massas - para ele, esta é a maneira mais rápida e eficiente de se servir e de comer. Já os franceses comem cada alimento em um prato diferente, evitando que sabores e aromas se misturem, nem que para isso precisem ficar horas à mesa. Os americanos terminam uma refeição dizendo "estou cheio" ("I'm full"). Já para os franceses a frase é "estava delicioso" (não sei traduzir para o francês. Se alguém souber me mande que eu coloco no texto).

Ainda de acordo com o autor muitas das características dos Estados Unidos são explicadas em função de seu humilde início. É aqui que entra o conceito de Código Cultural! Os americanos começaram do nada, como colônia inglesa, e trabalharam duro para alcançar a riqueza. Isso é um traço forte que ficou enraizado na cultura americana - o cérebro reptiliano dos americanos ainda "carrega" esta informação de pobreza, de tabalho árduo, do medo da escassez. Indo mais adiante, a reação de pessoas carentes quando o assunto é alimento é a mesma no mundo inteiro: elas comem o máximo possível quando podem porque não têm certeza de quando comerão novamente. Obviamente, tudo neste exemplo acontece inconscientemente. Mas, e o que dizer da França? Eles nunca passaram fome? Por que seu comportamento é diferente? A resposta também se encontra em seus ancestrais: a cultura francesa é fortemente influenciada pelo modelo da aristocracia. Um aristocrata jamais avançaria num buffet como um morto de fome qualquer. Inclusive, naquele país, terminar uma refeição com pratos e copos vazios é considerado algo extremamente vulgar - deve-se sempre deixar um pouquinho.


Por fim, para terminar, falemos mais um pouco sobre a pressa dos americanos: este povo não gosta de perder tempo e não é raro ve-los comendo enquanto andam ou dirigem. Psquisas indicam que o americano médio gasta 6 minutos com seu almoço.

É isso. Espero que tenham gostado.
Vou voltar a escrever sobre este livro e suas idéias em outros posts.
Agora vou tomar um café da manhã beeemm demorado

E amanhã tem mais....

3 comentários: