
Vou escrever sobre um "case" de marketing sobre o qual li há vários anos mas que ainda considero interessante. A história envolve a maior marca de fraldas do mundo - a americana Pampers - e as mães da África do Sul. Vocês vão ver como muitas vezes é bastante difícil quebrar as barreiras culturais e estabelecer uma nova categoria de produtos, ou, pior ainda, mudar hábitos enraizados.
Vamos, então, ao relato:
Houve um tempo em que existiam fraldas descartáveis na África do Sul (Hughies) mas não existiam Pampers. Nesta época a penetração deste tipo de fralda era baixíssima - ninguém usava. O país permanecia fiel às fraldas de pano. Motivos para isso? Vejam abaixo os três principais:

2) ajuda doméstica - alta presença de empregadas domésticas fez com que as mamães não encontrassem motivos (ou pelo menos demorassem a encontrar) para mudar o hábito de fraldas de pano para as mais práticas (e mais caras) fraldas descartaveis;
3) tradição: gerações de crianças tinham sido bem criadas com fraldas de pano e ninguém via relevância na conversão

Examinando a questão pelo lado cultural a coisa também era complicada: as mães se sentiam culpadas por comprar as tais fraldas que eram caras e que aparentemente só seriam vantajosas para elas que teriam menos trabalho - ninguém conseguia ver beneficios para os bebês e encaravam as descartáveis como "luxo e conveniência" apenas ("coisa de mãe folgada", era o que passava pela cabeça da maioria).

1) o time de marketing se dividiu em mini grupos e cada um deles passou 3 dias na casa de uma família que tivesse um bebê - eles queriam entender o dia-a-dia deste pessoal. Só assim é possível comunicar-se melhor com seu público e descobrir suas reais necessidades (observar o consumidor dentro de seu habitat é bastante revelador e insightful;
2) a Pampers aboliu as campanhas publicitárias com cientistas e médicos atestando que as fraldas descartáveis eram melhores. Aquilo soava falso e distante para as mães;
3) foram criadas campanhas com mensagens diferentes: uma delas enfatizava a importância, para a saúde do bebê, de um sono sem interrupções. Isso, claro, só seria possível se a criança ficasse sequinha a noite toda (o que não ocorria quando usavam fraldas de pano). A outra propaganda falava de prevenção e de como as mães deveriam evitar que a pele da criança ficasse em contato com a urina durante o dia, quando elas brincavam, pulavam, sentavam. Aquele atrito era prejudicial à delicada pele do bebê (veja o filme no final do texto).

5) a P&G também tratou de educar as mães, explicando a elas a maneira correta de usar o novo produto e deixando claro quais os benefícios para os bebês.
Quer saber se deu certo? Deu sim. Em dois anos a penetração (presença nas casas) de fraldas descartáveis aumentou em 60%. Abaixo algumas declarações de consumidoras:
- "antes a gente não sabia nada e pensava que estas fraldas eram um disperdício"
- "parecia um gasto exagerado, mas agora eu vejo que só elas para não provocarem assaduras no meu filho"
- "meu bebê dorme muito melhor agora. E toda a família também"
- "esta marca se preocupa com a saúde do meu filho"
- "a gente sabe que é verdade porque tudo o que estas mães estão falando a gente já viu e sentiu"
Agora, acessem esta peça publicitária (só achei uma) criada na época para a consolidação das Pampers (é a que fala que as crianças não devem ficar molhadas enquanto brincam):

http://www.youtube.com/watch?v=t_AK5Mb3MBM
E a história é esta, gente! Não é incrível? Eu adoro estes casos de marketing em que é preciso entender o contexto cultural, os hábitos, tradições e preconceitos de um grupo de consumidores para depois pensar na melhor estratégia para chegar ao coração de cada um deles. Gostaram? Tomara que sim!
E amanhã tem mais...

oi, Cláudia
ResponderExcluirmuito interessante mesmo, entender como é possível quebrar a resistência a novos hábitos.
Nós, donas de casa,sabemos bem como funciona esta propaganda boca a boca. É muito confiável ouvir de uma amiga os benefícios de um produto: a gente vai logo experimentar, ainda mais se for para melhorar a vida dos filhos e como bônus facilitar as nossas.
Agora parece que está acontecendo o caminho inverso. Li, dias destes, que na Dinamarca, todos as manhãs passa pelas casas um veículo recolhendo fraldas sujas, de pano, e repondo com outras limpas. É GRÀTIS. Isto por causa da poluição, gerada pelas descartáveis, que não era preocupação há poucos anos.
Imagino que o processo tenha sido o mesmo: primeiro convenceram algumas mães pessoalmente e estas as amigas.
Também já li que em alguns países de 1ºmundo (da Europa apenas) as mamães estão abandonando as fraldas descartáveis e trocando-as pelas de pano em nome do meio-ambiente. Acho tudo muito louvável, mas dou graças a Deus por meus filhos não usarem mais fraldas. De pano...já pensou??
ResponderExcluirAs minhas filhas usaram. Como em tudo na vida a gente se adapta.
ResponderExcluirHá trinta anos estas fraldas eram muito caras e a gente só as usava para ocasiões especias como idas ao médico k k k!!!
Existe coisa melhor que absorvente feminino, o correspondente as fraldas ? Pois é, eu sou do tempo das toalhinhas, já pensou? k k k!!!