2010-01-05

Quem é o adulto, quem é a criança?

Fonte: CONSUMIDO, de Benjamin R. Barber


- Eu quero um vermelho bem forte, acho que um Vinho ou Vermelho Chic.
- Eu pefiro um cor de pele, tipo Areia ou um bem branquinho como o Renda.

Eu e minha filha no cabeleireiro conversando com a manicure. Adivinhe qual fala é a minha, qual é a da Helena, minha filha linda de 11 anos? Isso mesmo, eu pedi o esmalte clarinho e a Helena ficou com o Vinho. Saimos do salão felizes, cada uma admirando suas unhas esmaltadas e brilhantes - as minhas bem discretas, as da Helena pareciam as unhas da mulher do Conde Drácula.

Comecei este post com este episódio corriqueiro (aconteceu ontem) para falar mais uma vez da precocidade das crianças e da infantilização dos adultos.

Tenho lido muito sobre o assunto, mas acho que o material mais completo, fascinante (e meio exagerado também) vem de Benjamin Barber e seu livro Consumido (este autor já escreveu um livro chamado Jihad x McMundo, que nunca li mas que está na minha lista. Deve ser, no mínimo, curioso)

Neste livro o autor defende algumas idéias bastante interessantes, a começar pelo interesse ds indústrias e marketeiros em estimular a infantilização dos adultos, ou a síndrome de Peter Pan que assola grande parte da população mundial: "as culturas adultas são plurais e distintas, mas a cultura jovem é bastante universal". Assim, é muito mais fácil padronizar produtos e marcas e harmonizar particularidades locais se o público alvo for jovem e imaturo. É só ver o que fazem Nike, Apple, Sony, Disney e todas as outras marcas que a gente adora e que são capitaneadas por geniais homens e mulheres de marketing.


Como já falamos aqui outro dia, crianças não conseguem postergar a satisfação de seus desejos (e isso é muito, muito bom para os negócios). Assim, evitar que o adulto cresça, torna-lo um "homem criança", um consumidor jovem (para sempre) é de interesse do mercado: "A criança quer porque quer, quando quer, sem considerar as necessidades dos outros, e o homem-criança não foge desse padrão". Da mesma maneira, crianças são convertidas em consumidores prematuramente. "Para o consumo prevalecer é preciso tornar as crianças consumidores e tornar os consumidores crianças".


Outro exemplo que conhecemos bem aqui no Brasil está dentro da indústria da moda: a mãe quer parecer que tem 15 anos enquanto a filha usa acessórios, roupas e maquiagem de uma mulher de mais de 30. Na minha opinião, um horror!


No cinema, o impacto da infantilização é ainda mais acentuado: Hollywood está cada vez mais dominada por blockbusters destinados ao "mercado adolescente" esticado - aquele que compreende pessoas de 13 a 30 anos.

Veja a lista dos filmes de maior bilheteria do ano de 2009, nos Estados Unidos:

1) Transformers 2
2) Avatar
3) Harry Potter e o Enigma do Príncipe
4) Up - Altas Aventuras (animação dos estúdios Disney Pixar)
5) Lua Nova (a saga Crepúsculo)
6) Se beber não case
7) Star Trek
9)Monstros x Aliens
10) XMen: Wolverine
11) Uma Noite no Museu 2

Olhando os títulos acima, a gente vê que o autor do livro a que me refiro tem uma certa razão: são todos enredos juvenis - não há um filme adulto! No entanto, para ser honesta, preciso dizer que assisti a todos estes filmes e, apesar de reconhecer que há uma diferença enorme de qualidade entre eles, devo confessar que ADOREI quase todos! Ai, meu Deus, sou uma adulta que se recusa a crescer! Acho que sou mesmo! Brincadeiras a parte, é curioso e, de certa maneira, assustador, pensar em como somos manipulados (e nossos filhos tambem) e que aquela imagem de que nós humanos nos comportamos como rebanhos de gado não é no fim tão distante assim da realidade...

Agora, dê uma olhada em alguns dos títulos de filmes que serão lançados em 2010. Não vejo a hora...

1) Alice no País das Maravilhas
2) Eclipse (da saga Crepúsculo)
3) Alvin e os Esquilos 2
4) Harry Potter e as Relíquias da Morte (parte 1)
5) Homem de Ferro 2
6) Sherlock Holmes
7) Shrek 4
8) Toy Story 3
9) Sex and the City 2
10) Gulliver
11) Robin Hood

Última: sabe por que a indústria cinematográfica faz tantas continuações de filmes (Shrek 1, Shrek , Shrek 3, Shrek 4)? Porque, como somos adultos infantilizados, a gente se comporta como criança que pede as pais que contem sempre a mesma história: "De novo, conta de novo? Por favor...."


É isso.
E amanhã tem mais...

6 comentários:

  1. POR OUTRO LADO, PODEMOS ACOMPANHAR NOSSOS FILHOS EM SEUS PROGRAMAS E AINDA NOS DIVERTIRMOS, NÃO É?

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  2. Claro que sim! Quer coisa mais gostosa do que sair com nossos filhos?

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  3. Ontem a noite, enquanto o sono não chegava, peguei-me pensando no seu blog. Há tempos havia chegado a conclusão de que as gerações estavam ficando mais próximas e que talvez a causa fosse a TV. Explico.
    Meus pais falvam de artista que eu, na na minha adolescência nem imaginava quem eram: Bydu Sayão,Marlene,Emilinha,Dalva de Oliveira, Irmãs Galvão, etc...apenas suas músicas cantadas por minha mãe qdo resolvia soltar o gogó kkk...
    Na adolescência de minhas filhas elas ouviram e viram Roberto Carlos, Beatles,R.Stones,Rita Lee,desta até tinham discos. Veja, os meus "ídolos" quase chegaram a ser o das minha crianças e,agora, vc lê, assisti filmes,curte os ídolos de uma turminha que ficou bem próxima da sua geração e que deve conhecer os artistas que fizeram parte da sua adolescência.
    Me fiz entender?

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  4. Claro que sim e dou graças a Deus por este fenômeno! Se não fossem a TV e os discos e CDs eu jamais teria conhecido os Beatles e quase não reconheceria o Elvis Presley! Já imaginou que tragédia? Nem pensar! Hoje sou super fã dos Beatles, conheço todas as suas músicas e letras de cor, mesmo não tendo sido contemporânea da banda! Estas são as maravilhas da tecnologia! Isso para não falar nos gols de Pelé! Já imaginou o que seria privar o mundo daquela genialidade? Quem viu, viu e quem não viu, azar? Não pode né? Nunca tinha pensado por este ângulo, mas acho que você tem razão - as gerações estão mais próximas mesmo! Bjs

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  5. Oi, Claudia
    neste final de semana fui ao Espaço Uol de Cinema, e enquanto esperava pela hora de entrar,tomando um cafezinho , sentei-me ao lado de uma jovem senhora, de provavelmente, mais de 60 aninhos, e logo ficamos amigas de infância. Comentamos sobre os últimos filmes que assistimos e ela me recomendou, veementemente, imagine: AVATAR. Insistiu para que eu o visse em três dimensões pq era liiindo!!!!
    Imediatamente lembrei-me do seu blog. Tem razão, todos nos infatilizamos.
    A própósito o filme que vimos é: Ah! o Amor...
    Muito divertido, demos boas risadas, e tem lá suas verdades. Gostamos bastante: eu , meu marido e minha nova amiga com o respectivo cônjuge.
    Vale a pena conferir
    bjs

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  6. Adorei saber, Olívia! Obrigada também pela dica do filme. Vou assistir. Bj

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