2010-01-25

Segunda-feira, dia de fazer o bem!


Vocês acreditam que o ser humano é essencialmente bom? Há quem deposite todas as suas fichas nesta crença e há quem aposte que o homem tem uma índole ruim. Estes últimos afirmam que o ser humano só se comporta de maneira aceitável por conta do verniz de civilidade que somos obrigados a usar e de vez em quando a lustrar (se não ele vai desbotando e nos transformamos em bestas feras).

Eu faço parte do primeiro grupo, aquele que acredita que o homem tem uma natureza generosa. Será que sou crente demais? Talvez, mas tudo me leva por este caminho, afinal, mesmo que a leitura dos jornais ateste o contrário, há, ao longo de nossa história, muitos exemplos de atos de bravura e coragem de pessoas que arriscaram suas vidas para salvar outras, sem, aparentemente nenhum ganho pessoal - só aquela sensação inestimável que nos invade quando ajudamos alguém.

Claro que as minhas poucas experiências nesta área ficam por conta de caridade (colaborar financeiramente) ou voluntariado (dou aulas particulares para crianças carentes)- nunca arrisquei meu pescoço como faziam alguns bravos durante a segunda guerra mundial, ao esconderem famílias judias em suas casas, nem nunca trabalhei em campos de refugiados na África, nunca entrei num prédio em chamas para resgatar alguém nem, muito menos, estive no Haiti antes, durante ou depois do terremoto. Nem pretendo.

Fiquei pensando na generosidade de pessoas como Zilda Arns, que fizeram da ajuda ao próximo a meta de suas vidas e resolvi dedicar os posts de segundas-feiras à divulgação de "ações do bem" - elas estão por aí, aparecendo a toda hora, em diversos lugares do mundo, fazendo um "cabo-de-guerra" com as tragédias que nos assolam. Minha torcida, claro, fica para que o lado "do bem" seja mais forte e traga a corda para o seu lado. Afinal, nada melhor do que começar a semana lendo sobre exemplos iluminados e inspiradores para variar um pouco. Se vocês conhecem iniciativas legais, que gostariam de ver publicadas aqui, por favor, é só me enviar um email (claudia.allamandi@beyondreason.com.br).

Hoje, quero dividir com vocês duas iniciativas:

1) Distribuição de óculos lança novo olhar para a luta contra a pobreza (New York Times, janeiro/2010): um estudo publicado em uma revista da Organização Mundial de Saúde estimou em US$ 269 bilhões/ano o custo em produtividade perdida por problemas de visão. Há quem estime que 2 bilhões de pessoas não tenham lentes corretivas que lhes permitam levar um vida melhor e mais produtiva. Agora, há esforços para distribuir óculos baratos em grande escala. Uma tecnologia promissora é a dos óculos ajustáveis, em que usuários destreinados acertam o foco sozinhos em menos de um minuto, sem a necessidade de um oftalmologista. Três entidades já estão oferecendo suas versões dos óculos ajustáveis de baixo custo (US$4) - duas delas ficam na Holanda e uma no Reino Unido. A meta destas entidades é distribuir 1 bilhão de pares até 2020, nos países em desenvolvimento. Se quiser conhecer melhor as entidades envolvidas com o desenvolvimento e a distribuição destes óculos incríveis (quem sabe até fazer uma doação), aí vão os sites:
- Focus on Vision: http://www.focus-on-vision.org/index_en.php
- U-specs: http://u-specs.org/?page=18054
- Centre for Vision in the Developing World: http://www.vdw.ox.ac.uk/2minuteintro.htm



2) Como os pequenos empréstimos estão capacitando as mulheres atingidas pela pobreza na África (Opportuntiy Internacional - www.opportunity.org.uk):A Opportunity é uma instituição inglesa que concede microcrédito e treinamento profissional a pessoas menos favorecidas em países em desenvolvimento. A meta deles? Transformar vidas! Nas próprias palavras da Opportunity: propiciar uma chance a 10 milhões de pessoas necessitadas ("the world’s poorest people") de sair da pobreza através de seus próprios trabalhos e talentos - tudo isso até 2015.

Aí vão alguns exemplos do que eles já fizeram:

Perguntada onde o seu negócio seria localizado, a resposta de Rosina Sarfo foi "debaixo de uma mangueira", porque é "perto do local onde os ônibus e táxis desembarcam seus passageiros quando eles retornam de Kumasi (Gana), por isso é bom para as vendas."

O instinto marketeiro de Rosina foi de uma precisão absoluta: um ano mais tarde, o fluxo constante de clientes para sua barraquinha de peixes fritos fez com que Rosina deixasse de fritar os peixes em uma panelinha, num fogo feito ali mesmo, e começasse a comprar peixes em grande quantidades e a prepará-los num fogão adequado. Assim,ela pode vender muito mais peixes.

Mas apesar de seu tino comercial e perseverança, a banca de peixes de Rosina nunca teria conseguido sair do chão sem um pequeno empréstimo de 55 dólares concedido pela Opportunity International. Hoje Rosina consegue sustentar sua família de seis pessoas.

Dê a uma mulher a chance de desenvolver seu potencial e os efeitos em cadeia para seus dependentes e a comunidade são de longo alcance. As mulheres tendem a destinar uma maior parte de sua renda para as necessidades básicas - melhor nutrição, habitação, saúde e educação - para si e para seus filhos.

Hoje, 85% dos clientes do Opportunity International são mulheres e muito do foco do seu trabalho consiste em encontrar novas formas e produtos para capacitar as mulheres e explorar o espírito empresarial como o de Rosina Sarfo.

O resultado é freqüentemente uma mudança positiva na forma como as mulheres percebem a si próprias (aumento da auto-estima) e como suas famílias e comunidades passam a vê-las.

Jennifer Mwesigye - Depois de anos de luta para sustentar seus sete filhos, trabalhando como costureira em Uganda, em 1997, Jennifer recebeu um pequeno empréstimo para comprar sua própria máquina de costura. Isso lhe permitiu expandir o seu negócio e a diversificar para outras áreas. Primeiro, ela abriu uma empresa de moto-táxi e depois comprou terrenos para construir imóveis para alugar. Hoje, as empresas combinadas de Jennifer empregam 57 pessoas, e, além de seus próprios filhos, ela agora cuida também de cinco órfãos portadores do HIV.

Enquanto isso, sua capacidade de liderança natural a levou a ser eleita para o conselho da cidade. Agora ela está mudando a cultura local para as mulheres, derrubando as barreiras para que elas possam iniciar seus próprios negócios.

"Quando você treina uma mulher, você treina uma nação inteira", comenta Memory Nsinga, que trabalhou para o Opportunity International Bank of Malawi durante seis anos.


À sombra da mangueira, Rosina não trabalha sozinha. Enquanto ela continua a fazer um grande sucesso com seu peixe frito, sua irmã trabalha no seu próprio empreendimento, ao lado do de Rosina, vendendo batata doce frita. A estratégia de marketing da dupla é bem "costurada": um prato de peixe frito com batata doce é uma refeição completa para os viajantes famintos.

Estas histórias são inspiradoras, vocês não acham? Sempre me comovo com essas iniciativas e nunca deixo de me surpreender ao ver que muito pouco pode causar um grande impacto na história de alguém (55 dólares para a Rosina transformar a vida dela e de sua família).


Ah, quase me esqueço - o índice de inadimplência destes empréstimos é de 2%! É maravilhoso, não? Por que será que os nossos bancos não se inspiram nestes exemplos? Juros razoáveis estimulam as pessoas a quitar seus débitos. Juros extorsivos, agiotagem (que é o que se pratica oficialmente hoje no Brasil) são um convite ao calote! A propósito, a inadimplência no Brasil gira em torno dos 6%!


É isso, gente.
Acostumem-se porque, como já disse, vou dedicar as segundas-feiras a este assunto: 2ª feira é dia de espalhar o bem!

E amanhã tem mais...


2 comentários:

  1. Excelente iniciativa, Claudia.
    aquele ditado: água mole em pedra dura...
    Quem sabe com os exemplos, surjam mais idéias ou engajamentos em ações sociais
    Parabéns

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  2. Super obrigada pela força, Olívia. Obrigada também pela dica da matéria da Folha. Você vai ve-la em forma de post algum dia desses. Bj

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